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quarta-feira, julho 14, 2004

Mundo Cão
Foi um grande erro não ver na devida altura um dos melhores filmes dos últimos anos. Comecei por desconfiar de Dogville quando ouvi falar da aposta estética radical de tudo filmar num cenário despojado, onde os locais da acção estão escritos a giz no chão. Soava-me a provocação gratuita, muito ao jeito das patetices do manifesto Dogma. Por outro lado, sempre achei Lars von Trier um cineasta interessante mas superficial de tanto fingir que é profundo. Não sou, desculpem o sacrilégio, grande fã de Breaking the Waves e Os Idiotas fazia imenso jus ao nome por ser tão idiota. Gostei de Dancer in the Dark mas pelos maus motivos: tenho esta fraqueza de gostar de dramalhões.
Até Dogville. Quando pude ver que o tal despojamento cénico não é apenas um truque intelectualóide mas uma verdadeira necessidade, sem a qual o filme não faria sentido (exemplo máximo: a sequência da violação de Grace). Que os movimentos de câmara manual típicos de von Trier são acompanhados por verdadeiros momentos de autêntica poesia visual, como é o caso de todos os planos de grua na vertical (sobretudo o último plano do filme).
Disse-se na altura que Dogville era uma fábula sobre a América. Não é. Tal como Young Americans de David Bowie (que acompanha o genérico final) não é apenas uma canção sobre jovens americanos. Dogville é sobre o Mundo tal qual o conhecemos. É sobre mim e sobre ti, sobre o nosso vizinho e a nossa família. É sobre o prazer que sentimos quando a vingança de Grace se abate sobre Dogville.
Quando o narrador se interroga, no fim do filme, se foi Grace que deixou Dogville ou Dogville que deixou Grace, nós sabemos a resposta. Só não temos é coragem suficiente para a dar.
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