segunda-feira, março 08, 2004
Rapariga com brinco de pérola
Não é de agora o fascínio do cinema pela pintura. Nem é de espantar, sabendo a estreita relação que existe entre estas duas artes. Isto a propósito de Girl with a pearl earring, que, sem ser um grande filme, tem sido tratado um bocadinho injustamente. Os críticos do Público, por exemplo, não se dignam dar-lhe mais de uma estrelinha. Por mim, penso que há duas ou três coisas que compensam os euros gastos no bilhete.
Antes de mais nada, Scarlett Johansson, que ameaça tornar-se o caso mais sério de empatia com a câmara desde Audrey Hepburn (pronto, está bem, estou a exagerar um bocadinho…). Num papel extremamente difícil, pela rarefacção dos diálogos, e onde muita actriz consagrada correria o risco de se espalhar miseravelmente, a fantástica Scarlett consegue convencer-nos e arrancar uma interpretação portentosa, cheia de subtileza e discrição, jogando apenas com o olhar e o corpo. E a uma actriz em estado de graça tudo se perdoa.
Depois, a estratégia. O realizador escolheu fazer o seu filme como uma sucessão de imagens, elas próprias sugestão de pinturas de Vermeer. Daí o cuidado quase maníaco na reconstituição dos detalhes da época, o que, podendo enervar um pouco pelo seu carácter académico, não deixa de ser uma aposta curiosa e agradável de seguir para quem, como eu, admire a pintura de Vermeer.
Enfim, resultado desta estratégia, o cuidado posto na excelente fotografia, que utiliza magnificamente a luz. Em inteira consonância com o trabalho de Vermeer que, antes de pintar pessoas ou cenas, pintava sobretudo a luz. Será que o Eduardo Serra andou a ver o Barry Lyndon antes de começar a trabalhar neste filme?
Estes aspectos positivos desculpam os pontos fracos do filme, nomeadamente aquele jeito muito "série BBC" e as metáforas demasiado evidentes, como a cena da perfuração da orelha a simbolizar a perda da virgindade (mas, lá está, até aí temos Scarlett a salvar a cena pela força erótica que lhe consegue transmitir).
Entretanto, a título de curiosidade, fiquem com esta análise pormenorizada do quadro que inspirou o filme (e, antes dele, o livro de Tracy Chevalier).
Não é de agora o fascínio do cinema pela pintura. Nem é de espantar, sabendo a estreita relação que existe entre estas duas artes. Isto a propósito de Girl with a pearl earring, que, sem ser um grande filme, tem sido tratado um bocadinho injustamente. Os críticos do Público, por exemplo, não se dignam dar-lhe mais de uma estrelinha. Por mim, penso que há duas ou três coisas que compensam os euros gastos no bilhete.
Antes de mais nada, Scarlett Johansson, que ameaça tornar-se o caso mais sério de empatia com a câmara desde Audrey Hepburn (pronto, está bem, estou a exagerar um bocadinho…). Num papel extremamente difícil, pela rarefacção dos diálogos, e onde muita actriz consagrada correria o risco de se espalhar miseravelmente, a fantástica Scarlett consegue convencer-nos e arrancar uma interpretação portentosa, cheia de subtileza e discrição, jogando apenas com o olhar e o corpo. E a uma actriz em estado de graça tudo se perdoa.
Depois, a estratégia. O realizador escolheu fazer o seu filme como uma sucessão de imagens, elas próprias sugestão de pinturas de Vermeer. Daí o cuidado quase maníaco na reconstituição dos detalhes da época, o que, podendo enervar um pouco pelo seu carácter académico, não deixa de ser uma aposta curiosa e agradável de seguir para quem, como eu, admire a pintura de Vermeer.
Enfim, resultado desta estratégia, o cuidado posto na excelente fotografia, que utiliza magnificamente a luz. Em inteira consonância com o trabalho de Vermeer que, antes de pintar pessoas ou cenas, pintava sobretudo a luz. Será que o Eduardo Serra andou a ver o Barry Lyndon antes de começar a trabalhar neste filme?
Estes aspectos positivos desculpam os pontos fracos do filme, nomeadamente aquele jeito muito "série BBC" e as metáforas demasiado evidentes, como a cena da perfuração da orelha a simbolizar a perda da virgindade (mas, lá está, até aí temos Scarlett a salvar a cena pela força erótica que lhe consegue transmitir).
Entretanto, a título de curiosidade, fiquem com esta análise pormenorizada do quadro que inspirou o filme (e, antes dele, o livro de Tracy Chevalier).
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