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terça-feira, dezembro 02, 2003

Há coisa de 20 anos assisti na Faculdade de Economia da UNL a uma Conferência de um então jovem Professor do MIT de seu nome Paul Krugman. Não me recordo exactamente, mas não teria muito mais que 30 anos de idade (o Professor, não eu!). Era um acontecimento fora do vulgar pois os modelos económicos de Paul Krugman já eram ensinados por esse mundo fora, incluindo Portugal. Estávamos perante um prodígio que, mantendo a perspectiva clássica ou neo-clássica da teoria económica, acrescentava uma modelização original e, parecia, respeitada por economistas e políticos. Era naturalmente um economista de natureza conservadora (expurgando por agora do conceito qualquer negativismos de natureza política), como a quase totalidade dos Professores que ensinavam na UNL. Aliás, a UNL tinha nascido fundamentalmente por contraponto a um ensino "demasiado" esquerdista que se praticava na área da economia no então ISE e depois no ISCTE. Era neste último instituto que o Professor Alfredo Barbosa leccionava antes de se lançar na aventura da nova Faculdade de Economia (há um episódio curioso em que este vosso escriba foi um dos sujeitos, no ódio visceral que se desenvolveu entre este saudoso Professor - falecido - e outro mais conhecido do grande público pela sua capacidade de gerir um país sem ler jornais nem aceitar opiniões de outros, mas isso ficará para outro post). Enfim, estávamos perante, portanto, um acontecimento dentro de uma ala da teoria económica que defendia a não intervenção (ou uma intervenção bastante restrita e controlada) do Estado na economia, tendo avançado mesmo para aquilo que ficou conhecido como a "supply side economy". Ou seja a economia movida por força da oferta que injectaria na economia a pujança dos seus produtos e serviços (supostamente a preços competitivos e de natureza inovadora) e que os consumidores se seguiriam fechando de uma forma harmónica (com impostos para o Estado como é óbvio) as equações fundamentais da Economia!

Vinte anos se passaram!

Leio na Visão desta semana: "Não só discordo da política da gente no poder em Washington, mas sobretudo tenho documentado que constituem a administração mais perigosa, em tempos recentes. A sua política económica é desonesta e irresponsável. (...) E que as pessoas hoje no comando dos EUA constituem uma coligação de grupos bastante radicais. (...) Uma direita radical controla o Congresso desde 1994. (...) É claro que utilizaram o 11 de Setembro para desenvolver uma política externa que nada tem a ver com o terrorismo, mas sim com a visão de os EUA mandarem no mundo. (...) O mais assustador é que os EUA estão à beira do precipício. (...) O meu medo não é que os EUA se tornem num país fascista, mas uma espécie de Chicago dos anos 60, 70, quando a cidade era controlada por uma máquina política corrupta."

Se não fosse o comentário " (...) eu sou conservador." pensariamos estar perante uma entrevista ao "pop-radical-de-esquerda" Michael Moore (que, já agora, com "Dude, where´s my Country" continua a mesma linha - simpática - dos seus anteriores livros; desta vez não tem umas eleições para dissecar, mas tem um 9/11!). Mas não!

Aquelas palavras são, nem mais nem menos que do emérito Professor Paul Krugman! Onde os EUA estão hoje (o seu poder e não o seu povo, como diz Moore) nem sequer é o caminho para o purgatório, nem o caminho para o Inferno (ou seja, o purgatório!). Já lá estão mesmo dentro. Será que a UNL ainda convida o Professor Krugman para dar Conferências?
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