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quarta-feira, novembro 26, 2003

Östalgia
Vi finalmente "Goodbye Lenin", a primeira comédia da história do cinema alemão (pois, que muitos defenderão que dizer "comédia alemã" é já uma contradição intrínseca). É uma comédia simpática, que consegue aliás ultrapassar a mera "Östalgia", se me é permitido aportuguesar este intraduzível termo, que está muito na moda na Alemanha, e dar-nos um retrato sensível e sem maniqueísmos espúrios da complexidade dos sentimentos dos cidadãos da ex-RDA no contexto da conversão rápida ao capitalismo. Se a RDA teve aliás a sorte de contar com o apoio sem limites da irmã desavinda, muito graças ao empenho do então chanceler Kohl, um dos últimos grandes estadistas europeus, as repúblicas ex-soviéticas, pelo contrário, tiveram (e têm) de enfrentar quase sozinhas as incertezas do futuro democrático. Na maior parte delas, o capitalismo selvagem e galopante, que deixou por vezes parcelas importantes da população numa miséria maior ainda que nos tempos do comunismo, convive alegremente com a herança soviética, nomeadamente a corrupção desenfreada e o culto da personalidade. Não será portanto de estranhar que de vez em quando lá apareçam vozes, mais ou menos isoladas, reclamando o regresso do comunismo. Claro que o comunismo acabou, e não voltará, mas estas ideias deixam o caminho aberto a todos os populismos bem falantes que um dia se apresentem com ideias atractivas. Só o desenvolvimento económico sustentado que beneficie toda a população, e não apenas o enriquecimento dos novos apparatchicks, poderá fazer evoluir a situação. E aí o "Ocidente", e nomeadamente os Estados Unidos, vencedor incontestável, e incontestado, da Guerra Fria, tem um dever moral enorme.
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